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Florianópolis, 13 de junho de 2017

Uma jovem, aos risos, tentando se esconder – foi tudo o que uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) encontrou ao chegar no local para o atendimento de uma suposta emergência naquela madrugada. A jovem telefonou para o 192 informando que uma amiga estava com sangramento e quase desmaiando. Por telefone, a médica reguladora, já desconfiada, passou algumas recomendações. Não contente, a garota ligou de novo, desta vez afirmando que sua amiga estava sofrendo uma hemorragia e havia desmaiado. A médica, mesmo receosa, enviou uma equipe até o local em código vermelho (prioridade máxima). Aos profissionais, restou registrar a ocorrência à Polícia Militar.

Infelizmente, a prática é mais comum do que se imagina. O caso narrado ocorreu em Balneário Camboriú, município catarinense que mais recebeu trotes em 2016, registrando 18% do total de chamadas. No ano passado, em todo o estado, foram 109.853 chamadas falsas de 925.380 mil realizadas. Somente em março deste ano, das 75.611 mil ligações recebidas pelas Centrais de Regulação do SAMU em Santa Catarina, 8.035 foram registradas como trotes, 11% do total. Os números são alarmantes.

As falsas emergências custam hora profissional, materiais e combustível, mas o verdadeiro problema é outro, como explica a diretora de Projetos da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), Fernanda Cassia Ferrari Lance. "O principal prejuízo está na falta de atendimento a uma pessoa que está realmente necessitando, pois quando uma ligação de trote é atendida nas Centrais de Regulação, outra deixa de conseguir esse atendimento. Assim acontece também com o envio das ambulâncias, além de pôr em risco a vida da própria equipe. ", explicou Fernanda Lance.

Os casos mais comuns de trotes são realizados por crianças nos horários de entrada e saída da escola – estas costumam ser menos nocivas, pois são facilmente identificáveis pelos risos, gritos e até palavrões. O perigo são as chamadas realizadas por adultos, pois estes tem mais facilidade para inventar uma história e criar detalhes, dificultando a identificação por parte do médico regulador que atender ao telefonema.

Em 2012, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) criou, em parceria com a SPDM, o projeto EducaSAMU, com o objetivo de orientar a sociedade em relação ao uso correto do serviço, bem como explicar as funções do mesmo e, consequentemente, diminuir a incidência de trotes. O projeto foi bem aceito e teve boa repercussão na mídia. Há, ainda, uma lei em vigor no estado que prevê multa para quem cometer o crime de trote, além da imposição das penalidades previstas no Código Penal Brasileiro. No entanto, apesar de os números que originam trotes ficarem registrados no sistema, ainda não existe um protocolo de análise e envio destas informações aos órgãos competentes.