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Florianópolis, 14 de junho de 2017

Encerra-se nesta quarta-feira, 14, a 1ª Conferência Estadual de Saúde das Mulheres de Santa Catarina trazendo para o debate o tema central “Saúde das mulheres: Desafios para a integralidade com equidade”. O evento, que iniciou na terça-feira, 13, está reunindo 1.100 convidados e delegados escolhidos nos municípios catarinenses entre representantes dos segmentos dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), profissionais de saúde, governo estadual e prestadores de serviços no auditório do Centro de Cultura e Eventos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis.

Este evento é uma etapa preliminar da 2ª Conferência Nacional de Saúde das Mulheres, que ocorrerá de 1° a 4 de agosto de 2017, em Brasília, com as propostas deliberadas nas conferências estaduais. O objetivo da conferência nacional é propor diretrizes para compor a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Mulheres.

A coordenadora Geral da 1ª Conferência Estadual de Saúde das Mulheres e presidente do Conselho Estadual de Saúde de SC (CES), Cléia Aparecida Giosole, está muito satisfeitacom os debates e propostas que vieram dos encontros municipais e macrorregionais. Além disso, está com ótimas expectativas com relação às propostas estaduais. Veja a entrevista com Cléia:

SES: Qual a importância desta conferência para o Estado e à nível nacional?

Cléia: A realização de conferência é uma das diretrizes da lei 8080, de 19/09/1990, que regula as ações e serviços de saúde em todo o território nacional e estabelece os princípios, diretrizes e objetivos do Sistema Único de Saúde (SUS). A conferência faz com que os delegados aqui presentes reavaliem as propostas que vieram dos municípios e das macrorregionais. O objetivo dessa conferência é traçar para que sejam incluídas no plano municipal, no estadual e encaminhadas para a 2ª Conferência Nacional de Saúde das Mulheres.

SES: Como está se dando a organização do evento?

Cléia: Estamos felizes. Vieram mais de mil delegados dos municípios e temos quase mil propostas que serão discutidas entre oito grupos de trabalho, onde sairão as propostas que serão encaminhadas para a conferência nacional e as que estarão inseridas no plano estadual no que se refere a Política Integral da Saúde das Mulheres.

SES: O que foi feito no primeiro dia do evento (13/06) e hoje (14/06)?

Cléia: No primeiro dia, logo após a abertura da cerimônia, foi realizada uma palestra onde foi lido e aprovado os regulamentos da conferência. Depois todos os delegados se dividiram em subgrupos para discutirem e escolherem as propostas que serão encaminhadas à Conferência Nacional para compor a Política Nacional da Saúde da Mulher na sua integralidade. E também para que saiam as propostas pra política estadual.

Nesta quarta-feria, além de ocorrer a grande plenária, haverá a escolha dos 48 delegados homens e mulheres para representar o estado de Santa Catarina na Conferência Nacional e defender as propostas elencadas nesta conferência.

SES: Com relação às propostas, existe alguma área que possui mais urgência?

Cléia: Creio que a demanda maior será com relação a integralidade da mulher como um todo, ou seja, tratá-la como um ser humano, como pessoa, não só vê-la por seu lado ginecológico. Esse é o viés, ver a mulher pelo seu lado psicológico, como uma trabalhadora, como uma mãe.

SES: A tônica dos discursos na abertura foi “não perder direitos”. Você acredita que esse é o ponto principal neste debate?

Cléia: Sim, com certeza. Hoje toda a reformulação que está ocorrendo a nível nacional sempre entra como premissa a mulher em segundo plano. E essa não é a ideia. O objetivo é fortalecer, ou seja, se nós estamos aqui, vamos ocupar os nossos espaços. Lutando para que não haja racismo, preconceito, que sejamos tratadas com dignidade como nós mulheres merecemos.

SES: Como foi sua trajetória até ser presidente do Conselho Estadual de Saúde de Santa Catarina?

Cléia: Eu comecei atuando no Conselho Municipal de Joinville. Num primeiro momento, fui representar uma Associação de Pais e Professores (APP) de escola. Deixei a APP, os filhos cresceram e então resolvi voltar. Foi aí que comecei a atuar como representante de moradores lutando pelos seus direitos, sendo sempre do segmento usuário. Depois representei a Federação das Associações de Moradores, a Famesc, e ali consegui representar o Estado enquanto coordenadora de Plenária Nacional de Saúde, onde participei da organização da Conferência Nacional de Saúde.

O meu intuito principal sempre foi a defesa e a busca dos direitos coletivos. Creio que temos que soltar nossa voz, lutar pelos nossos direitos constitucionais, pois a saúde é um direito de todos desde que haja uma política pública eficaz. Então, desta forma, fui atrás de capacitações, conferências, me especializar. O artigo 198 da Constituição Federal de 1988 fala da participação da comunidade, fala que precisamos ocupar os espaços dos conselhos de saúde seja local, municipal e estadual. Me sinto no dever e obrigação de representar aquele usuário mais vulnerável, que falta o medicamento, falta o tratamento resolutivo, o acesso é mais difícil. E é por isso que a gente tem que lutar e é pra isso que a conferência é constituída.

SES: Você estava muito emocionada na cerimônia de abertura da conferência estadual na terça-feira. Pode falar um pouco sobre isso?

Cléia: Claro! Foi um privilégio nesse ano de 2017 ser eleita a primeira mulher, negra e representante do segmento usuário para presidente do Conselho Estadual de Saúde de Santa Catarina, e bem no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Para uma mulher negra é importante conquistar esse espaço. Sempre quando falo disso, me emociono. Agradeço a todos que depositaram em mim a confiança para estar aqui, fazendo parte dessa história de luta pelos direitos da mulher.

SES: Então a realização desta 1ª Conferência Estadual de Saúde das Mulheres além de ser uma vitória pessoal é uma vitória para todas as mulheres catarinenses?

Cléia: Sem dúvida alguma é uma grande vitória. Na realidade, a primeira Conferência Nacional de Saúde e Direitos da Mulher ocorreu em 1986, e após 31 anos retoma as discussões e reúne as mulheres para pensar a política nacional de saúde. E hoje está sendo realizada a primeira de Santa Catarina. Temos muito o que agradecer a todos que colaboraram para a efetivação deste grande encontro de discussão da saúde da mulher. É uma vitória ver 1.100 delegados lutando pelos direitos de 50,4% da população catarinense que é mulher.